Eu e Deus!

Conta a gente do lugar que lá pros canfundós do Ribeirão das Mortes, um sitiante das antigas, família formada, as filhas já bem casadas, alguns netos, resolveu dar para o filho mais novo um pedaço de terra para que este começasse a vida. Escolheu uma gleba de dois alqueires, no canto mais inculto da sua propriedade, beirada do rio e lavrou a escritura em nome do caçula. Pitoco era o apelido do rapaz. Sujeito forte, trabalhador que só dois dele, tão orgulhoso que preferiu não pedir emprestado pra ninguém – nem pro pai e se dispôs a erguer sozinho o cantinho onde pretendia criar sua própria família.

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Trabalhar dá um trabalho!

Quem me contou este causo foi o “Nenê”, baiano bom de prosa, que trabalha no boteco do Toninho, ali na Fradique Coutinho.
Conta ele que lá pro interior da Bahia, um lugarejo daqueles bem atrasados (quase todo mundo é funcionário público, dominado pelos “caciques” da região) devia eleger um novo prefeito. O atual estava encerrando seu período de dois mandatos regulamentares.
Disputa acirrada entre a curriola do coronel Antunes e os capachos do coronel Vieira, com dois candidatos “farinha do mesmo saco”, paus-mandados de seus padrinhos.
O que um prometia no palanque, o outro prometia em dobro.

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Pagando o pato!…

Contam que lá pros cafundós de Minas, numa cidadezinha daquelas que só a igreja católica e o entregador da coca-cola conhecem, vivia um sujeito muito do trabalhador (Sabe aquele cara esforçado mesmo? Se fosse funcionário da prefeitura, seria aquele que fica pelejando com a enxada, consertando o calçamento, enquanto os outros quatro só “apreciam” a obra, contando piada e mexendo com as moças que passam…) e honesto até a raiz do cabelo.

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E as carijós?…

Sujeito vivido, bancário, cinquenta e tantos anos, de férias no sítio de um amigo, resolveu sair para dar um passeio. Num sitiozinho daqueles perdidos na beira da estradinha, encontrou um matuto, sentado num mourão caído, jogando milho para as galinhas. Até que um bandinho bem grande, com galinhas carijós e outras daquelas de granja, bem branquinhas, algumas com suas ninhadas, outras “solteiras”. O galo, que não estava presente, não devia estar dando conta do recado. O citadino, nada pra fazer, resolveu papear um pouco com o caipira:

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Não deu no Globo Rural…

Certa feita o prefeito de uma dessas cidades bem pequenas, perdidas lá no sertão, não vou dizer o nome que é pra não ofender ninguém, resolveu percorrer os sítios da região, para saber porque a produção do seu município era tão inferior àquelas que ele via no Globo Rural.
Mais próximo da cidade, o sítio do Simplício foi um dos primeiros a ser visitado. Depois de muito bater palmas e de “ó de casa…”, o Simplício apareceu na janela, cara amassada de quem acabou de acordar, esfregando uma remela no canto do olho:

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Criado a pão-de-ló!

Alguns anos atrás, nas vilas do interior, quando não havia tanta facilidade para comprar carne, era costume se criar animais pelo sistema de “ameias”. Funcionava mais ou menos assim: alguém da vila, que tinha lá um empreguinho razoável e, portando, algum dinheiro sobrando, comprava uma ninhada de qualquer coisa – leitão, pintinho, bezerro e combinava com um sitiante amigo para a criação dos bichos e posterior partilha, quando os animais chegassem no tamanho para o abate ou começassem a botar ovos ou dar leite, o que seja.

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Engenharia caipira.

Nos últimos tempos temos assistido o resultado das barbaridades projetadas pela engenharia tupiniquim: é viaduto, prédio e até ciclovia que desabam, pontes e estradas que levam a lugar nenhum…
Me lembrei de um causo que, pelo que ouvi, aconteceu no interior de Minas, ali na região serrana. Numa dessas épocas pré-eleitorais, o prefeito e candidato a reeleição resolveu construir uma estrada ligando sua cidade à rodovia federal.
Como sabe todo político, não há cabo eleitoral melhor que estrada – dá pra fazer e inaugurar rapidinho. Dá até pra inaugurar por trechos. Na cabeça do povo acaba virando uma porção de obras!

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Nadando pelado.

Ali pras bandas do Rio das Antas havia uma vila dessas bem pequenas, onde não acontece nada de importante – nem de bom nem de ruim. No centro da cidade, como não podia deixar de ser, tinha a igreja matriz, a prefeitura e a praça principal (e única, aliás). Duas ruas: a avenida principal, com farmácia, correio, banco e vendinha e a rua de baixo, com bar, casinhas mais humildes e que inundava todo ano, na época das cheias do rio. Rio dos bons, água limpa, muito peixe, ingazeiros carregadinhos pendurados sobre a correnteza – cada vez que caía um bago na água era um ferver de pacuzinhos esfomeados e fáceis de pescar…

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