Trabalhar dá um trabalho!

Quem me contou este causo foi o “Nenê”, baiano bom de prosa, que trabalha no boteco do Toninho, ali na Fradique Coutinho.
Conta ele que lá pro interior da Bahia, um lugarejo daqueles bem atrasados (quase todo mundo é funcionário público, dominado pelos “caciques” da região) devia eleger um novo prefeito. O atual estava encerrando seu período de dois mandatos regulamentares.
Disputa acirrada entre a curriola do coronel Antunes e os capachos do coronel Vieira, com dois candidatos “farinha do mesmo saco”, paus-mandados de seus padrinhos.
O que um prometia no palanque, o outro prometia em dobro.

Aconteceu de estar o candidato da oposição fazendo um inflamado discurso – por lá eles são bom de discurso: “palavras são palavras!…” – quando, lá pelo meio da peroração, ele percebeu que os gatos-pingados que o ouviam começavam a perder o interesse e iniciavam uma ainda tímida dispersão – saindo aos poucos, um a um, pra não dar na vista e acabar arrumando inimigo poderoso…
Conhecedor do povo, o candidato mandou logo um:
– Se eleito for, todos vocês serão contratados pela prefeitura!
Um “viva!” ainda tímido veio da platéia.
– E ninguém vai ganhar menos que dois (!) salários-mínimos!… – Emendou.
Desta vez a assistência respondeu com um ainda meio apagado “já ganhou!”.
– Com direito a décimo terceiro e décimo quarto! – Continuou o candidato.
Agora o povo estava realmente interessado. Alguns ensaiaram um corinho de “ei, ei, ei, Florisvaldo é nosso rei!”
Entusiasmado com o sucesso das promessas, o candidato mandou o que acreditou ser o “cheque mate” no indeciso eleitorado:
– E prometo mais: vocês só vão trabalhar um dia por mês! Só doze dias por ano!…
Agora a plebe ululava.

Lá no fundo do povinho, o Petrônio, meio cegueta e surdo como uma porta, cutucou o companheiro ao lado e perguntou o que o candidato tinha prometido.
O parceiro contou da contratação de todos, falou sobre os doze dias de trabalho por ano e voltou a saudar entusiasticamente o candidato.
O Petrônio pensou um pouco, espetou o dedo novamente no amigo e, com olhar esperançoso, perguntou:
– E as férias? O que ele falou das férias?…

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