Pagando o pato!…

Contam que lá pros cafundós de Minas, numa cidadezinha daquelas que só a igreja católica e o entregador da coca-cola conhecem, vivia um sujeito muito do trabalhador (Sabe aquele cara esforçado mesmo? Se fosse funcionário da prefeitura, seria aquele que fica pelejando com a enxada, consertando o calçamento, enquanto os outros quatro só “apreciam” a obra, contando piada e mexendo com as moças que passam…) e honesto até a raiz do cabelo.

Na falta de nome melhor, vamos chamá-lo de Riobaldo.
Casado com a Ritinha, uma moça dali mesmo, cheia de dengos e vontades, muito “dadeira” (Por causa dessas moças é que um amigo mineiro costuma dizer que a única mineira que não dá é a loteria… Brincadeira dele, é claro.) e burrinha de dar dó.
Por força da profissão – peão de boiadeiro – Riobaldo passava longas temporadas longe de casa, tangendo boiada – do pasto pro abatedouro, do criadouro pra engorda…
E nessas ocasiões sua mulher fazia a alegria dos moços da cidade. Mas só os da cidade, que os do mato, de botina suja, ela queria distância.

Riobaldo viajando, a Ritinha na janela de casa, penteando os cabelos, assuntava o vai e vem das pessoas. Lá pelas tantas viu um capiau (“até que bem apanhadinho” – pensou) passar carregando um pato debaixo do braço. Um belo pato: branquinho, gordo…
– Moço?! – chamou ela. – Onde você vai com esse pato?
– Pra feira. – respondeu o caipira. – Vou vender na feira.
– Quanto? – perguntou ela.
– Quatrocentos réis – respondeu ele.
– Caro, né? – argumentou a Ritinha. – E eu que sou doidinha por um pato assado! – Revirou os olhos e arrematou: – E o meu marido, aquela besta, viajou (uma pausa teatral)… E me deixou sem um tostão!

Pra encurtar a história, conversa vai, conversa vem, acertaram de trocar o pato por “favores sexuais”. Com consumação ali mesmo, no sofá da sala da casa dela.

Lá pelas tantas, depois de várias “consumações”, a Ritinha finalmente se deu conta que o capiau estava exagerando na “conta” dos favores e reclamou. Reclamação devidamente não aceita. Segundo o caipira, ele ainda tinha direito a umas tantas mais.
Calça e calcinha levantadas, meteram-se numa discussão das mais acaloradas.
Enfiando o pato novamente debaixo do braço, o capiau ameaçava ir embora.
A Ritinha, nervosa que só, ameaçava dar na cabeça dele com o ferro de passar roupa.
E olha que era um ferro daqueles a carvão – uns dois ou três quilos, por baixo!

Nessa hora chega o Riobaldo. Sabe lá por que, encurtou a viagem.
Dando de cara com aquele fuzuê todo, separa os dois e, percebendo que o motivo da briga é o pato – que ele sabe ser um prato muito apreciado pela Ritinha – saca do bolso quinhentos réis e paga o caipira que, mais que depressa se manda dali, enquanto a Ritinha corre feliz para a cozinha para preparar o pato!

Enxergando “dito em benedito”: troque a Ritinha por um desses políticos corruptos – qualquer um deles serve.
E agora imagine o capiau como um grande empresário – de qualquer área, fornecedor do governo.
E quem é o Riobaldo? Você e eu!

Obs.: trocando local e nomes, esta é a versão mais aceita para o nascimento da expressão “pagar o pato”.

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