Pai político…

Aí por volta dos anos 50, 60, meu pai foi prefeito de uma cidadezinha no litoral sul paulista.

Como diziam na época os moradores: o lugar era o “penico do céu”, tanto pelo tamanho (uma “poça”) quanto pelo que chovia (O mesmo índice pluviométrico da Amazônia!).
Na família contava-se a história que o velho vencia uma eleição (Foi prefeito em 3 mandatos, com intervalos – na época não havia essa história de reeleição.), assumia a prefeitura e, por ser o município muito pobre, ele acabava tirando do próprio bolso pra cobrir eventuais rombos no orçamento.
E acabava que saía da prefeitura sem um tostão…
Ou devendo até as próprias cuecas!

Aí volta a trabalhar (tinha uma transportadora) pra recuperar o dinheiro “investido” na política e, dali a 4 anos, olha ele candidato novamente!
E a história se repetia.
Pelo que me lembro, várias vezes minha mãe ameaçou deixá-lo, se não parasse com aquela obsessão.
Acabou que, para felicidade dela e de toda a família, em sua quarta tentativa, acabou perdendo a eleição para um imigrante, um apedeuta ruim de administração, mas bom de promessa.
Não fosse isso e talvez o meu pai continuasse na política até morrer.

De qualquer forma, a crença na honestidade e desprendimento daquele político e pai me manteve acreditando que o Brasil, apesar de muitos exemplos em contrário, tinha jeito.
Que valia a pena entrar naquela de “vamos nos sacrificar pelas futuras gerações”.
De tentar ver em cada nova promessa política, um possível redentor de nossa fé em valores como honra e honestidade.

E acabamos por chegar aos tempos atuais.
Mais cínico e crítico, analisando essa tragicomédia que é a política brasileira e seus efeitos nas pessoas, e vendo confirmada a teoria que não existe político honesto, lembro de meu pai e chego à triste conclusão que aquela história de abnegação provavelmente não passava de “lenda familiar”.
Um jeito de “dourar a pílula”, para que os filhos e netos pudessem tocar a vida com um certo orgulho.
Infelizmente a verdade tem esse hábito desagradável de nos atingir na cara, mais cedo ou mais tarde, mesmo àqueles de índole mais inocente.
Hoje, eu também pai e avô, não acredito mais ser possível que uma pessoa consiga sobreviver e até gostar do ambiente da política e seja – ou se mantenha – honesta e ética.

Assim, se atualmente você está sofrendo – a até tentando não acreditar – ao ver alguns de seus ídolos políticos, sejam de que partido ou orientação forem, revelarem suas verdadeiras faces, acredite que poderia ser ainda pior…
Você poderia, como eu, deixar de acreditar no mais querido dos heróis: o seu pai.

Free image: Pixabay

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *