Rogar praga funciona?

Aí por volta dos anos 1960, 1970, meu pai comprou um terreno na Ilha Comprida, no município de Iguape, no litoral sul do estado de São Paulo.
A gente morava em Juquiá, ali perto, mais para o interior, então tinha toda lógica ter uma casa à beira-mar. E a Ilha Comprida ainda era um local pouco habitado, muito tranquilo. Faixa de areia bem larga, mar sempre calmo. A ideia era ter um lugar na praia, pra família passar suas férias e feriados. Pra mim, moleque então, seria uma festa!

Assim que as condições financeiras permitiram, meus pais construíram uma casa pequena, mas suficiente para nós, a poucos metros da areia, mais para o lado norte da ilha, mais próximo à Iguape.
(Na época, pelo menos uma parte da ilha pertencia ao município de Iguape. Parece que hoje em dia se tornou um município independente.)
Conseguimos aproveitar por uns dois anos, até que, chegando para passar um feriado prolongado, encontramos a casa ocupada por um pessoal estranho.
Ressabiado, o velho colocou o trinta e oito na cinta e foi “assuntar” o que estava acontecendo. Minha mãe e eu esperamos no carro. Minha mãe bastante apreensiva.
“Eles dizem que a casa estava abandonada, então se mudaram pra cá…” – Voltou meu pai.
Fomos pra cidade de Iguape e meu pai prestou queixa na delegacia.
Voltamos para Juquiá e, na semana seguinte, o velho voltou à Iguape para saber das “providências legais”.
“Nada.” – Nos disse ele, na volta. “O delegado diz que não tem como tirar os invasores, porque eles têm um documento do fórum de Iguape, dando a eles o direito de ficar lá. Que os invasores são parentes de um vereador da cidade…”
E mais: “que aquilo era uma prática muito comum em Iguape, e particularmente na Ilha Comprida.” “Trouxa de quem comprava terrenos por lá…”

Abro um parêntese aqui pra explicar que, naquela altura, por suas atividades políticas, o meu pai já era bastante conhecido na região. Ou seja: não era um “zé ruela” qualquer.
Mesmo assim, após um ano de idas e vindas, não foi possível expulsar os invasores.
Em outros tempos, antes de se tornar presbítero ativo da Igreja Presbiteriana, talvez o velho tivesse resolvido aquela situação à bala. Mas agora, um “crente”…

O jeito foi dar por perdido. E nunca mais passar nem perto de Iguape e da Ilha Comprida.

Como disse, eu era um moleque ainda, mas me lembro de acompanhar – com muito gosto! – minha mãe numa praga “caprichada”, rogada contra aqueles safados e suas próximas gerações!

E não foi só aquela vez, mas em todas as oportunidades que não pudemos ir para a praia, aproveitar um feriado ou férias escolares e lembrávamos do assunto (Imagine o que significava isso para uma criança!), dá-lhe praga! Nossa única resposta possível…

Meados de 2023.
Leio nos sites das principais publicações e até no TikTok, que a Ilha Comprida passa por uma situação climática bastante crítica, com o mar enfurecido levando embora a areia da área mais ao norte da ilha e destruindo as casas construídas próximas à praia.
Provavelmente, dentre estas, a casa (e o terreno!) que um dia foi nossa!

Será? Não. Você provavelmente está certo. É difícil acreditar que Deus iria mandar um castigo tão violento contra famílias que, pelo menos em tese, não deveriam pagar pelos erros de seus pais e avôs…
Ou será que Ele mandaria?
Na Bíblia lemos várias passagens, onde descobrimos que Deus mandou umas pragas bem cabeludas, para castigar algumas pessoas e até povos inteiros…
Pergunte para os egípcios!

O que eu posso dizer é que não contem comigo para se condoer com essa situação.
Como me ensinaram desde aquela época, ainda criança: “Aqui se faz, aqui se paga!”, “A justiça tarda, mas não falha!” e tantos outros provérbios populares (“A voz do povo é a voz de Deus!”) sobre esse assunto.

Assim, se você comentar comigo sobre este assunto e notar um certo sorriso disfarçado, não leve a mal…
Provavelmente é só um cacoete besta qualquer…
Afinal, rogar pragas não funciona, né?

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