Reservado…

Domingão, onze horas da manhã, um sol de rachar taquara no brejo, no monumental campo de futebol do lado de lá da ponte, lotação de duas mil e quinhentas almas totalmente esgotada, mais uns tantos em cima da ponte mesmo, para assistir ao clássico futebolístico Panteras Futebol Clube (de Juquiá) X Esporte Clube (de Jacareacanga).

Numa daquelas pasmaceiras que acontece em todo o jogo, quando parece que os dois times não estão lá muito a fim de jogo, as torcidas quietas, desanimadas com o zero a zero, levanta-se Zeca Cristaleira – pelo nome dá pra você imaginar o tamanho da criatura – e grita:
– Vou cagar em todo o time do Esporte Clube! – Olhou para os lados e completou: – Só não cago naquele sujeito de branco!
Todos olharam para o tal torcedor – provavelmente o rapaz torcia para Clube dos Médicos de Sorocaba – todo de branco, até os sapatos. Branquinho feito um frango de granja.
Uma vaia encheu o campo, respondendo a bravata do Zeca.
O sujeito de branco, sem entender a situação, sorria com ares de superioridade.
Claro que o Zeca Cristaleira levantou de novo e, desta vez, resolveu ofender o time da casa:
– Tem mais! – Gritou ele. – Vou cagar também na cabeça de todo mundo do Panteras… Até do presidente do clube! – E completou: – Menos na cabeça daquele sujeito de branco!
Outra vaia, esta maior, só fez o Zeca ficar ainda mais invocado:
– Eu cago na cabeça dos dois times e das duas torcidas todinhas! – Deu uma pausa e mandou: – Só não cago naquele sujeito de branco ali!
Desta vez a vaia foi ensurdecedora. Tanto que uma senhora, que estava sentada ao lado do Zeca, puxou pela ponta da sua camisa e perguntou, já se encolhendo de medo da resposta:
– Ô Zeca, esse menino?…
– Que qui foi, dona Creuza? – Respondeu ele com um resmungo.
– Mas por que é que toda vez que você diz que vai cagar em alguém, você sempre salva aquele homem de branco? É seu parente, é?
– Né não, dona. – Respondeu o grandalhão, agora em voz bem alta, pra todo mundo ouvir: – É que aquele ali eu reservei pra limpar a bunda!

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