E agora, José?

Nestes tempos conturbados sofremos junto com vários amigos, por crenças iguais ou diferentes, que viram seus sonhos mais lutados e defendidos escoar pelo ralo abaixo, resultado da mais vil das traições do ser humano: a ganância.

Essa ânsia de tudo ter que, junto com a prepotência e a mentira, explica o roubo e a agressão ao outro. E, ao final, derruba nossos ídolos e mitos. E, com eles, destrói nossos sonhos. Para esses amigos, também “Josés”, desiludidos de seus heróis e desesperançados por seu país, publico parte dos versos de Carlos Drummond de Andrade:

José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

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