Rogando pragas!

Passei por uma situação bastante crítica nestes últimos trinta dias, que me fez lembrar de um costume antigo, agora perdido no esquecimento dos mais velhos:  a Praga.

Acho que você deve conhecer só de ouvir falar… Afinal, nestes tempos de redes sociais, todo o mal (ou bem) que você pode desejar estão ao alcance, com um clique no ícone desejado e pronto: o “postante” vai se sentir aprovado ou rejeitado na hora!

Mas, se você tem interesse em saber como essa coisa de praga funciona, eu conto…

Sabe aquela sacanagem que aprontam contigo, contra a qual você fica indefeso, sem ter como reagir?

Aquela sacanagem praticada pelos poderosos, principalmente.

Presidentes de empresas ou de países… Políticos e administradores públicos… Magistrados e policiais… Ladrões, assaltantes e afins… Maldosos desconhecidos no trânsito, ou escondidos em suas casas, gritando suas ofensas… E outros, que você sabe quais são!

Eles acabam ficando impunes. O que não é nada estranho, considerando ser o Brasil reconhecido como o país da impunidade.

(Lembra do Biggs, o ladrão britânico que assaltou um trem na Inglaterra e veio se esconder e montar uma família no Rio?)

Aí você fica com esse nó no estômago, remoendo sua raiva, sem poder reagir!

Pois bem. Os mais velhos tinham a solução. E a praticavam no seu dia-a-dia: a Praga!

É bom você conhecer algumas regras para rogar uma praga. Primeiro e mais importante, uma praga eficaz requer muito senso de justiça e honestidade. Ela tem que ser invocada na medida certa da ofensa recebida.

Por exemplo, não adianta você rogar uma praga, desejando que o cachorro do seu vizinho morra, porque ele fez seu cocô na calçada e você pisou na porcaria, ou porque ele latiu a madrugada inteira, não te deixando dormir.

Primeiro: a culpa não é do cachorro. Não é certo que ele pague o pato. A culpa é de seu dono (ou dona). E a morte dele é um exagero em relação à ofensa que você sofreu.

Que tal rogar uma praga para que o dono (ou dona) dele pise num cocô de procedência canina na rua, não perceba e chegue naquela reunião super importante espalhando pegadas pelo carpete do cliente e inundando o ambiente com o mau cheiro?

Lembre-se sempre: rogar uma praga “injusta” é certeza de que ela vai se voltar contra você!

Outra regrinha básica: rogar praga também é maldade, portanto não adianta pedir ao “papai do céu” e seus anjos. Com certeza eles não vão te ouvir, quanto mais te ajudar.

Você vai ter que apelar para o “você sabe quem”… O “cara lá de baixo”. Ele e seus subordinados. Eles adoram uma vingança e vão te dar a maior força!

E mais: eles têm uma vasta experiência no assunto!

Isto posto, vamos às minhas desventuras do último mês…

A coisa começou com umas manchas que começaram a flutuar em meus olhos. No esquerdo mais. No direito menos.

Para um profissional de design e de redação como eu, qualquer encrenca com os olhos é uma enorme encrenca!

A dificuldade cada vez maior em trabalhar em frente à tela do computador foi o gatilho para eu ficar pra lá de apavorado!

Apavorado o suficiente para procurar ajuda… E especializada!

Pelo menos tem um lado bom, pensei: “finalmente o Governo vai me restituir um pouco do muito que me levou a vida inteira com impostos!”

E toca para o Pronto Socorro.

Por indicação de conhecidos, me mandei para a Santa Casa. Minha esposa me acompanhando, de “babá”.

Você já foi na Santa Casa? Nunca? Não vá!

Assim que entrei no Pronto Socorro de Oftalmologia, me senti chegando a um dos círculos do inferno de Dante. Choro e ranger de dentes!

Devia ter perdido o amor pelos reais que gastaria numa consulta particular, e fugido como um cachorro espantado do açougue!

Mas não!… Não eu, metido a paladino da justiça… Eu não iria pagar por alguma coisa a que tinha direito!

Desce escada até o subsolo e vamos esperar eu ser chamado ao guichê onde, depois de mais de uma hora em pé, fui atendido por uma “surdinha”, que fez questão de me fazer repetir todas as informações pelo menos três vezes! E olha que meu problema era nos olhos. Minha fala continuava bem normal…

Protocolo na mão, subimos dois lances de escada. Um salão cheiíssimo (mais choro e ranger de dentes!) e toca a esperar aparecer o meu número (mil e tanto..) no monitor de TV do século passado.

Finamente me chamaram. Comigo mais meia dúzia, todos encaminhados para a mesma sala. Atendimento no atacado… Os (dois) diagnósticos também. Aparentemente todos os que têm problemas nos olhos, têm os mesmo dois problemas. Inclusive eu! Diagnosticado no primeiro momento com uma irritação, causada por um objeto estranho, que já tinha saído, mas deixara a sensação de manchas nos olhos!

A residente ficou me olhando como se eu fosse um ET, quando insisti que ainda estava vendo as tais manchas… E que elas aparentemente se mexiam!

Me abandonou na sala e saiu – talvez à procura de seu professor, sei lá. Voltou depois de meia hora e resolveu pingar um dilatador de pupilas. Me mandou de volta ao salão (mais choro e ranger de dentes…) aguardar ser chamado.

Um tempo depois, após ter os olhos esfregados por ela com um cotonete, o diagnóstico: descolamento do vítreo. Total no olho esquerdo e parcial no direito. Aquelas manchas eram sombras na pupila, causadas por esse descolamento. Mas que eu não me preocupasse – A não ser que percebesse que a visão diminuísse acentuadamente. Aí era pra correr para um especialista! – que aquilo não tinha cura, mas que meu cérebro se encarregaria de “ignorar” as manchas, e eu poderia tocar minha vida em frente normalmente…

Sabe aquele cara que, de tanto castigo, acha que numa outra encarnação cuspiu na cruz de Jesus e fez xixi na santa ceia? Assim eu me sentia ao sair de lá, quase sem enxergar nadinha, amparado por minha “babá”.

E mais: naquele momento ainda não sabia, mas eu acabara de ganhar uma infecção hospitalar num dos olhos – uma conjuntivite das mais malvadas que alguém já viu! Ou não viu!…

Quando a ficha realmente caiu, vamos dar uma pesquisadinha no “tio” Google, né? A gente sabe que os médicos em geral odeiam que seus pacientes consultem o Google: isso acaba tirando um tanto da aura de “divindade” deles…

Pois bem: o tal “descolamento de vítreo” tem solução sim! Chama-se vítrectomia. O tal vítreo é composto basicamente de água (99%). Então o cirurgião tira isso e coloca no lugar uma solução aquosa.
Por garantia, vou confirmar isso com um especialista, quando ganhar coragem para consultar um.

Como falei, fui infectado com um “bicho” dos bravos nessa consulta. Quando aquele olho inchou uma barbaridade e a infecção atingiu o outro olho, corri para o Pronto Socorro do Hospital São Paulo! Não ia voltar para a Santa Casa, não é?

Mais choro e ranger de dentes! Aqui um pouco menos.

A residente que me atendeu deu uma olhada rápida e me deu uma amostra grátis de um colírio. Só se interessou realmente por mim quando falei do descolamento do vítreo. Assunto incomum, acho eu, merecedor de um olhar mais atento.

Para esses alunos o paciente não é nada mais que um tubo de ensaio, onde uma “cultura” (a conjuntivite) prospera. Ou uma cobaia com uma condição interessante (o descolamento) para ser observada. Afinal, eles são estudantes, não é?

Cadê ao menos um professor? Não vi nenhum, é claro!

A conjuntivite (Eu já disse que ela era das “bravas”, né?) só fez piorar.

De volta ao Pronto Socorro. Desta vez o choro e ranger de dentes foram os meus!

O residente, desta vez um homem e R4 (acho eu), deu uma olhada na situação e vaticinou, na lata: “o senhor vai ter que fazer uma raspagem!”

O susto foi grande. Eu não sabia que olho se raspava! Imaginei uma raspadeira igual ao de pedreiro, só que pequena, “esmerilhando” meu globo ocular! Pra onde será que ele ia me encaminhar pra fazer isso?

Enquanto eu imaginava os piores cenários, ele enfiou um dedo no meu olho esquerdo, o mais ferrado, virou a pálpebra inferior pelo avesso e esfregou, com bastante força, o que vim saber depois ser um cotonete, na parte interna da pálpebra arrancando, junto com meu gemido, um tanto de sangue e mais sei lá o que…

Com o suor me descendo pelas costas, aguentei ele fazer o mesmo na pálpebra de cima e no outro olho, embaixo e em cima! Choro e ranger de dentes!

Pra encurtar o caso, tive que voltar mais cinco vezes, para a tal raspagem – descobri com os outros residentes que me atenderam depois, que ela não precisava ser feita daquela forma estúpida e agressiva. (No final deste caso meus agradecimentos a eles.)

Hoje meus olhos estão quase normais, tirando as manchas do descolamento, que ainda atrapalham um bocado a visão…

Muito bem! Agora chegamos à parte que realmente chamou a sua atenção: as Pragas!

No meu caso quase que um verdadeiro “olho por olho”!

(Se você é uma pessoa influenciável ou cheia de mi-mi-mis, acho bom parar a leitura por aqui…)

Praga #1: Esta é para aquela residente da Santa Casa, pelo tratamento relapso e pela infecção.
“Daqui há alguns anos, já formada e casada, quando você for ao ginecologista, este só vai notar que você tem um problema “lá”, depois que você insistir muito e, por ter esquecido de esterilizar adequadamente seus instrumentos, ele vai te infectar com uma DST difícil de você explicar para o seu marido.” Eheheheheh! – risadinha maldosa do capetinha que vai realizar o serviço…

Praga #2: Praquele residente 4 do Hospital São Paulo, pela grosseria e pelo tratamento desnecessariamente estúpido.
“Mais um tempo e você será um médico formado, com uma bela conta bancária, e vai fazer uma viagem de turismo pela Amazônia ou um outro rincão perdido deste nosso Brasilzão. Lá você, machão, vai “visitar” uma casa da luz vermelha e não usará preservativo, é claro. Pois bem. Aquela moça bonitinha te passará uma gonorreia. O médico local que vai te atender é um daqueles da “velha guarda”. Vai te mandar tirar a roupa e, quando você começar a achar interessante a manipulação, ele vai enfiar no canal do seu “amigo” um instrumento antigo, hoje obsoleto, com uma haste semelhante a um “guarda-chuva”. Chegando no fundo, o médico vai abrir esse “guarda-chuvinha” e puxar com vontade, raspando para fora toda a porcariada que se acumulou ali. Por via das dúvidas, ele vai repetir o procedimento mais três vezes (uma para cada “pálpebra”!).” Ahahahahahahah! – gargalhar malévolo do capetão responsável pelo cumprimento da missão…

Praga #3: Uma praga especial, para todos os da elite – atual e passada! – responsável pela situação absurda que está a Saúde no País. De políticos em geral a doutores, administradores e até presidentes!
“Você vai fazer uma viagem de carro. Numa curva, muita chuva, seu carro colide com outro, uma “bicheira” velha (pilotada por um dos capetas especialmente designados).
Seu carro e você vão cair numa valeta na beira da estrada, onde a enxurrada vai levar sua carteira com todo seu dinheiro, cartões e documentos. Quando a ambulância chegar vai encontrar você ao lado da “lata velha” e os socorristas vão achar que você é o dono dela. Você vai ser levado para um pronto socorro qualquer e dar entrada como um “desconhecido”. Agora adivinhe quem será o residente que vai atender o seu caso?!…” Uhahuhahuhahuhah! – milhares de risadas, de uma horda gigantesca de “você sabe quem”, cada um deles focado em proporcionar a vocês todos o “melhor tratamento” – com variações infernais sobre o tema!

Muito bem. Mas não podia encerrar sem ver o outro lado, certo?

Fica aqui também uma invocação de bênçãos – para alguns médicos e médicas, aqueles realmente interessados e solidários, para que sejam sempre respeitados e valorizados.
E também para esses brasileiros, doentes e abandonados. Que aqueles que sofrem por injustiças tenham suas lágrimas secadas e sua dor diminuída… E que possam um dia assistir, de camarote, esses “poderosos” serem assolados pelas mais criativas pragas que vocês puderem rogar!

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