Solteira da cidadezinha.

A moça era nova na cidade. Tinha ido a convite do prefeito para dar um curso de corte e costura para a mulherada da cidadezinha. Pago do próprio bolso, dizia o prefeito. Como ia ter que ficar alguns dias, foi até a venda do seu Tamada comprar umas coisinhas que não tinha trazido.

Ela ia pedindo e o velho Tamada ia até a prateleira, pegava o pedido e colocava no balcão. Do lado, na parte da venda que vendia cachaça, um caiçara já bem pra lá de Deus me livre, tomava seu enésimo copo de pinga e ia acompanhando e “narrando”o desenrolar das compras da moça:
– Uma resma de papel… Dois panos de prato… Um pacote de fósforos… Duas velas…
Um bocado de coisa no balcão depois, o seo Tamada lutando para fazer as contas num pedacinho de papel de pão, o caipira perguntou:
– Cabou? Hum… Sei… – Tirou o chapéu, coçou a cabeça. – A moça é solteira, né?
A moça olhou para o matuto, maravilhada com o poder de dedução do sujeito e perguntou:
– O senhor descobriu isso só de ficar olhando minhas compras?
O caipira deu uma cusparada no cachorro vira-lata que dormia ao lado, deu uma piscada forte como que para acordar e respondeu:
– Né isso não moça. É que ocê é feia demais da conta!

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