Cabra macho!

Beira da estrada. No topo do morro, no fim de uma estradinha, uma casinha bem caiada, telhado de telha de verdade, na porta uma lâmpada dentro de um balde de plástico vermelho alaranjado. Quem é do interior sabe do que estou falando. Dentro a festa corria solta quando chega um sujeito grande, forte, cara de jagunço. O sanfoneiro foi afrouxando os braços e a música foi parando, parando…

As moças se juntaram num canto cochichando e dando risadinhas nervosas. Os homens, sitiantes e roceiros da região, se olharam, tomaram mais um golinho de cachaça e esperaram o que vinha por ali.
– Neste lugar não tem macho! – Exclamou em volta alta o forasteiro.
O silêncio era total.
– Digo mais: aqui só tem viado e frouxo! – Continuou o valentão.
E foi se aproximando de um velhinho que estava apoiado na ponta do balcão, parecendo bem chumbado. Calça “pula brejo”, botina suja de terra, camisa de flanela azul com dois bolsos bem cheios sabe lá de que, cigarro de palha atrás da orelha – um borra-botas, como diriam os antigos. O valentão chegou, cutucou o peito do velhinho e mandou novamente:
– Aqui não tem macho!
O matuto enfiou a mão nas costas e bem devagarinho puxou um colt 45, preto como carvão, botou em cima do balcão mantendo a mão em cima, com a outra mão pegou o cigarrinho, limpou a garganta e mandou numa voz bem miudinha, quase sumida:
– Tem razão, moço. Tem macho não… Todo macho que apareceu por aqui a gente mandou lá pro cemitério…

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