Não bebo mais…

Dizem que este causo aconteceu em Iguape, litoral sul de São Paulo, terra de caiçaras bons de prosa e de cachaça, mas acho que poderia ter acontecido em qualquer lugarejo do país. Vale do mesmo jeito.

Contam que dois amigos, o Zé e o Chico, moradores antigos da cidade, marcavam ponto, sempre a partir das onze, onze e meia, no bar do Naldinho, ali no largo da matriz.
Funcionários públicos, aposentados sem nunca ter trabalhado, os dois levavam a vida como se não houvesse amanhã: muita pinga, muita manjuba frita, muito espetinho de camarão sete barbas e “vamos em frente que atrás vem gente…”
Também eram dois grandes gozadores, daqueles de perder amizade mas não perder a piada. Não perdoavam ninguém com suas brincadeiras – principalmente eles mesmos: viviam tirando sarro um do outro!
Uma dessas ficou pra história:
Já por volta de meio dia e meia, ambos bem calibrados, o Chico vira pro Zé e diz, o mais sério que um bêbado pode ser:
– Não bebo mais! Nunca mais!
– Mas por quê, homem? – Espantou-se o amigo.
– Tá me dando trombose, Zé! – Respondeu Chico. – Tá vendo a grossura que tá minha perna? É a cachaça que desceu e fez esse estrago todo!
O Zé olhou, o mais atentamente que um bêbado pode olhar e, tinha que concordar, as pernas do Chico estavam bem inchadas, mesmo. Achou que pareciam de elefante. Talvez por isso chamavam de “trombose”, de “tromba”, concluiu como só um bêbado pode concluir.
– Gozado… – Argumentou. – Pra mim o efeito é outro.
– Não tô reparando em nada. O quê a cachaça faz com você? – Perguntou o Chico.
– Desce pra bunda. – Respondeu o Zé.
– Eita, sô. Eu não noto nada. Sua bunda taí como sempre esteve…
– Pois é… – Respondeu o Zé, já segurando o riso. – Eu também não consigo perceber nada, mas toda tarde, quando volto pra casa o pessoal da rua olha pra mim e comenta: “Olha lá o Zé! Outra vez com o rabo cheio de cachaça!”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *