A cultura do “talvez, quem sabe”…

Dias atrás, assistindo a previsão do tempo na tv, me espantei com a – aparente – desinformação do apresentador sobre o clima. Os homens e mulheres do tempo, apesar de contar atualmente com previsões feitas por computadores com capacidade de processar um absurdilhão de dados, nunca se arriscam numa previsão mais exata.
A notícia é mais ou menos assim: “hoje poderemos ter um dia com grande possibilidade de sol, com chance de chuvas no decorrer do período, ventos de leves a moderados, podendo passar a vendavais em locais isolados…” Você arriscaria sair sem guarda-chuva com uma previsão dessas? Ou mesmo, se arriscaria a sair de casa?


O problema é que essa cultura do “talvez, quem sabe, todavia, porém…” não fica só na previsão do tempo.
Na notícia sobre crimes, a apresentadora do telejornal nos brinda com “o suposto ladrão…” Suposto? O bandido, contumaz desde sempre, foi pego em flagrante, filmado por dezenas de câmeras e, ainda por cima, confessou!
Todos, inclusive aqueles que deviam nos informar corretamente, entraram nessa do “politicamente correto”.
Que nada mais é que um escudo confortável, para quem não quer assumir qualquer declaração que possa colocá-lo numa situação constrangedora, que possa ser julgada e condenada.
Isso vale tanto no dia a dia pessoal quanto nos veículos de comunicação e nas redes sociais. E assim, a sensação de impunidade vai se acentuando no país. Aliás, um país conhecido desde sempre como refúgio seguro para bandidos, daqui e de todo o mundo!

Voltando (muito!) no tempo, lembrei de minha mãe, quando ia estender a roupa no varal, preocupada com a possibilidade de chuva.
E olha que em Juquiá chovia pra caramba! Apelidaram a cidade de “penico do céu”… Dizem que o índice pluviométrico de lá é igual ao da Amazônia!
E lá ia ela, perguntar ao capiau que cuidava do jardim e do quintal se ia chover.
O velho matuto então olhava pras bandas dos “matos” e respondia: “Vai não!”, ou “Vai sim, mais pra tarde!”. Assim mesmo, categórico. Não restavam dúvidas. E ele quase nunca errava. Não que eu saiba, pelo menos.
Um dia, moleque curioso, perguntei como ele fazia suas previsões.
Paciente, o velho me explicou: “Você olha primeiro pro alto dos morros e depois pra baixada. Aí é só lembrar este versinho: neblina na serra é chuva que berra – neblina na baixa é sol que racha”.
Espantado com a simplicidade da coisa, perguntei se não tinha mais.
Tinha, ele ensinou: “Cê tá vendo a caquera?”
Pra quem não sabe, a caquera é aquela árvore com (poucas) folhas bem largas, com caules compridos, parecida com um mamoeiro espichado, acho que também é conhecida em outros lugares como embaúba ou embaúva.
“Então…” Continuou. “Se as folhas da caquera estão torcidas, com a parte clara virada pra cima, vem chuva.” E pra confirmar o sol? Quis saber. “Aí você olha o formigueiro. Se tiver formiga saindo pro trabalho, é sol!”
Fácil assim. Só é preciso buscar a informação correta e ter culhões pra informar.

Em tempo: acho que também vou adotar essa política do “talvez”. Da próxima vez que me perguntaram se estou gordo, vou dizer: “estou começando a pensar que talvez eu esteja iniciando um processo de alargamento lateral adiposo que, eventualmente, pode levar a uma acentuada progressão no meu índice de massa corporal…”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *