Produtos eróticos.

(Leitura não recomendada para menores e senhoritas)

Aí por voltas dos anos setenta, oitenta, o mercado de produtos eróticos no Brasil ainda não existia. Em outros países esse comércio já estava em plena efervescência, principalmente nos EUA, terra da Playboy e Hustler, as mais festejadas revistas masculinas da história.


Vai daí que dois amigos meus, conhecidos por seu empreendedorismo, resolveram aproveitar a oportunidade para iniciar um novo negócio e montaram uma empresa de venda direta desse tipo de produto.
Ninguém ainda tinha se aventurado nessa seara aqui no país. Então, antes de colocarem todas as suas fichas no novo negócio, os dois decidiram fazer um teste de mercado, para sentir a receptividade da coisa.
Me encomendaram um anúncio para revista (a partir daí acompanhei a história de perto), que produzi utilizando fotos de anúncios e matérias publicados nos EUA. Obviamente que muito mais pela novidade da coisa que pela minha criatividade na elaboração da peça, o sucesso do anúncio foi retumbante.
Milhares de cupons de pedidos, todos devidamente acompanhados de cheques e até de dinheiro vivo, lotaram a caixa postal nos Correios.
Muita grana, mesmo! Sem saber o custo pra comprar no atacado nos EUA, os dois aplicaram uma margem de mais de 1.000% sobre o valor anunciado lá!
E agora? Como entregar esses pedidos todos?
Tiraram no par-ou-ímpar e o mais novo dos sócios foi sorteado para fazer uma viagem aos Estados Unidos, para comprar e trazer uma boa remessa de produtos.
Mineiro de Belzonte, sem saber muito mais que “good morning” e “thank you”, os bolsos recheados de dólares (nesse tempo ainda não havia o hábito de transportar a cueca…) comprados do agiota conhecido, passaporte estalando de novo, se mandou ele pros “esteites”.

Até hoje é um mistério (ele não conta, é claro) como conseguiu se virar por lá, comprando – muito bem pechinchado, claro – e enchendo duas malas, daquelas gigantescas, com os produtos anunciados e muitos outros mais.

Voltou num vôo direto pra São Paulo, com o avião lotado de brasileiros, com os quais logo se enturmou e, rapidinho, tinha feito amizade com todo mundo.

Com dia e horário de chegada a São Paulo previamente combinados com o sócio, desembarca e segue a fila de passageiros para o balcão da aduana. Esperto, observou o que os passageiros à sua frente faziam e, quando chegou sua vez, procurou fazer igualzinho.
Pra disfarçar o nervosismo, papeava animadamente com os outros passageiros. Na porta de saída o sócio acenava, animado.
E foi aí que deu-se o desastre. O fiscal, que já estava com suas duas malas em cima do balcão, pediu que ele as abrisse. Imagino o terror do mineiro naquela hora. As mãos suando, ele abriu o fecho da primeira – que não abriu de imediato – e depois foi pra segunda, ainda mais estufada de produtos, girou a chave e chuá… Voou pinto de borracha/látex pra todo lado.
O chão do aeroporto ficou coalhado de vibradores e “consolos”. Uma senhora cobria os olhos da filhinha ao lado – a mesma, ela lembrava, que estivera sentada ao lado do mineiro, momentos antes, dentro do avião… O empresário com quem o mineiro vinha conversando tão animadamente, recuou, tropeçando num vibrador de proporções cavalares. Os demais olhavam pra cima, para os lados, cada um tentando deixar bem claro que não conhecia o dono daquilo tudo. O sócio, lá na saída, evaporou.
O fiscal, cobrindo a boca para ninguém notar o riso, olhou para o mineiro, questionando a imensa quantidade de produtos tão, digamos, inusitados…
O mineiro foi aos poucos perdendo o vermelho da vergonha, abaixou, pegou um dos “consolos” e, num momento de genuíno “savoir-faire” mineiro, requebrou as cadeiras, levou a mão à cintura na famosa posição “segurando uma melancia”, jogou os poucos cabelos pra trás e mandou, na voz mais fina que conseguiu:
– Quê qui é isso, minha gente? Nunca viram, não? Pois é tudo para uso par-ti-cu-lar!

(Arrematando: depois de pagarem os impostos devidos, os dois entregaram os pedidos e ganharam uma grana pretíssima – com aqueles e os muitos outros que venderam na loja que abriram, num shopping de São Paulo.)

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