Cachaça na veia…

Em Sete Barras moravam dois amigos muito chegados. Amigos desde a infância – fizeram a escola juntos, se formaram no ginásio juntos, estudar mais não carecia nem tinha como porque, por aquelas bandas, o ensino acabava naquela altura. Nadaram muitos rios e ribeirões, caçaram muito inhambú e marreco, farrearam em muita quermesse, sempre juntos, unha e carne. Acontece que acabaram se enrabichando pela mesma moça e, como não podia deixar de ser, acabaram brigando feio e sendo abandonados, os dois, pela moça que se mandou pra capital com um doutorzinho da companhia de eletricidade…

Desandaram a beber e, como não podia deixar de ser, acabaram se reaproximando e fazendo as pazes. O problema é que, se conseguiram esquecer e perdoar os xingamentos, os socos e pontapés dos dias de baile que acabavam em briga, esqueceram até de um ou outro ter duvidado da honra da mãe do um ou do outro, não conseguiam era esquecer a “ingrata”, caboclinha bonita que só!
E pra tentar esquecer dela, bebiam. E bebiam muito.
Tarde da noite, voltavam os dois do bar do Quirino, ali no pé da serra, quando perceberam que a garrafa de pinga tinha acabado. E sem pinga não ia dar pra chegar em casa… A cachaça era o combustível que movia aqueles dois. Fazer o que? Tira no “janquempô” pra ver quem volta até o bar do Quirino, lá no topo do morro, pra buscar mais uma garrafa da branquinha.
Sorteado, lá foi um (ou foi o outro?) deles buscar a danada. Chegou na horinha de pegar o Quirino fechando a bodega – e ainda deu tempo de comprar uma garrafa. Com todo cuidado ele colocou a garrafa no bolso de trás de calça, que era mais fundo, ajeitou o chapéu, estufou o peito e toca a voltar para onde tinha deixado o amigo. Muita escuridão, tropeça daqui, escora dali, o chinelo de dedo acabou não aguentando os anos de uso e, numa valetinha do meio da ladeira, acabou arrebentando a tira. Desequilibrado, o bêbado caiu sentado no chão. Estava tentando levantar quando sentiu um líquido escorrendo pela perna. Levou a mão à bunda, mesmo ali no bolso, e implorou:
– Ai meu bom Jesus de Iguape! Que seja sangue!

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