Sacaneando um motorista sacana!

Por opção ou por necessidade, quando você se torna pedestre em tempo integral como eu, acaba encarando pela frente (e por trás, e pelos lados…) um novo mundo: o do relacionamento motoristas/motoqueiros/ciclistas X pedestres.
O neopedestre descobre rapidinho – se quiser sobreviver! – que ele é considerado pelos embarcados como um cidadão de segunda ou terceira classe. Portanto sem os mesmos direitos.

E nessa dos embarcados incluo os políticos, os administradores públicos e seus engenheiros e até os donos de botecos e restaurantecos, que ocupam a calçada com suas mesas e cadeiras.
Apesar de maioria, o pedestre é o último que fala (anda) e o primeiro que apanha (é atropelado). E é bom ele aceitar isso como um fato imutável da vida e tocar em frente.
Principalmente na sua relação com os motoristas (a maioria), pois estes se consideram uma casta de intocáveis (e acabam sendo, pela impunidade) e inatingíveis, em sua armadura de metal!
(Às vezes me pego a matutar se, nos mais de trinta anos em que dirigi todo tipo de carro, também eu não fui um desse tipo! Acho que não… Afinal, tive a felicidade de conhecer meu pai e minha mãe e receber deles uma boa educação.)

Mas aí você pergunta: “e fica tudo por isso mesmo?” Não, é claro que ainda existem algumas formas de reagir.

Uma delas é xingar… Considero muito adequado e oportuno o volume e a entonação do meu berro de “Filho da puta! Assassino!”, para algum motorista que, intencionalmente ou porque está muito ocupado falando ou digitando ao celular, joga o carro pra cima de mim e de outros que atravessam comigo na faixa de pedestres.
Já me perguntaram se não me preocupo se algum desses sacanas resolve vir me agredir. Costumo responder que o sujeito tem que, além de ser “filho de pai desconhecido e mãe dadivosa”, assumir que é um idiota completo pra brigar com um velho: se bater, grande coisa!, bateu num velho – se apanhar, que merda!, apanhou de um velho!
Mas talvez esta não seja a melhor forma de reação. É possível que eu me dê mal uma hora dessas. Afinal, tem um bocado de gente por aí que gosta (!) de bater em mulheres e crianças, não é? Bater num velho vai ser só uma ampliação do seu círculo de vítimas preferenciais…

Outra maneira, esta a minha preferida, é aproveitar a má intenção do motorista para sacaneá-lo. Além de fácil de executar, não envolver qualquer agressão de minha parte, esta forma de reação trás muito bem estar ao meu fígado e causa um bom estrago no bem mais precioso (mais até que a mãe, o filho, a casa…) que essas pessoas têm na vida: seu veículo!
Um breve intervalo: conheço pai que, na crise, tirou o filho da (boa) escola paticular, mas não vendeu o precioso carro!
Continuando: tudo o que você precisa é localizar uma rua onde haja uma boa valeta, daquelas que atravessam a rua de lado a lado. Quanto mais profunda a valeta, melhor. Se for uma rua de paralelepípedos, melhor ainda porque, além do calçamento virar um “sabão” quando molhado, quando vista do ângulo do motorista, a ilusão de ótica faz com que a valeta não aparente a profundidade que tem.
Aqui perto, na rua Simão Álvares, tem um prédio que, desde sua inauguração, despeja diretamente na rua milhares de litros de água por dia (inclusive durante o recente período de seca e racionamento).
Acontece que esse “rio” de água acaba por provocar o afundamento da rua, formando uma valeta bem grande, que – perfeita! – fica muito bem disfarçada pela água despejada.
De vez em quando a Prefeitura manda arrumar (e paga com o meu, o seu imposto…) o calçamento, mas em pouco tempo está tudo igual. Nesse prédio deve morar algum figurão do funcionalismo público – ou um amigo deste – porque, depois das muitas reclamações do pessoal da região, nenhuma providência foi tomada para resolver a causa do problema…

Mas vamos em frente. Veja o esqueminha que preparei para facilitar a compreensão do “procedimento”:


Percebeu a simplicidade e beleza da coisa?

  1. Você espera um carro vir em direção a você e à valeta. Faça cara de paisagem e comece a atravessar a rua.
    2. Se o/a motorista do carro que está vindo for boa gente, não acontecerá nada demais: ele/ela vai reduzir a velocidade para passar pela valeta, te dando o tempo suficiente para você completar a travessia, e passará incólume.
    Mas, se ele (ou ela) for um filho da puta, vai acelerar – na melhor das hipóteses, pra te dar um susto, te fazendo correr e, quem sabe, rir muito se você tropeçar e cair!
    Na pior hipótese, ele/ela vai mesmo é tentar te atropelar, mesmo que de raspão…
    3. Acontece que, com a aceleração e consequente incremento na velocidade, quando o/a sacana chegar à valeta, não vai conseguir frear a tempo (situação agravada pelo deslizamento na água empoçada) e catapau!, baterá violentamente com o fundo do carro na “margem” oposta da valeta.
    Mesmo com protetor de carter no carro, o prejuízo já será bastante sensível. Mas, se não tiver (e a maioria não tem), vai ter o carter rachado ou, no mínimo, trincado. Prejuízo dos grandes!
    E mais: ele vai lembrar o ocorrido por muito tempo porque, por melhor que seja o conserto, esse carro nunca mais será o mesmo!
    4. Aí, quando ele passar ao seu lado, com cara de sonso, devagarinho, com o motor já batendo biela, tucho e pino (cla-clá-clá, clá-clá-clá…), você o encara através do pára-brisa (Esse tipo usa o insulfilm bem escuro, mas só nas janelas laterais – no pára-brisa é ilegal.) e brinda-o com um sorriso beeem grande, desses que vão de orelha a orelha!
    Uma boa gargalhada também vai bem, mas pode ser considerada um exagero…
    Viu que beleza! Não precisa brigar, nem xingar, nem falar nada: até o/a mais imbecil motorista vai perceber que fez por merecer o seu sorriso sarcástico… E o prejú!
    5. Na minha terra natal diziam que castigo bom é aquele que vem a cavalo. Neste caso, vem com muitos cavalos (no motor) e castigam um burro sacana (no volante).
    Encerrando, é só relaxar e aproveitar essa sensação gostosa de fígado totalmente desopilado!…

Numa próxima, darei uma dica de como “mostrar o erro” pra alguns ciclistas que, pedalando na calçada (!) ou na ciclovia, “furam” o semáforo e a faixa de pedestres, jogando sua bike pra cima das pessoas…

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