Mundo de m…! Parte II

Para melhor entender a história, leia antes o causo “Mundo de m…! Parte I”.

Nas tais reuniões de final de semana, uma figura sempre presente era o Carcaça. Grande gozador e tirador de sarro da desgraça alheia, o Carcaça ganhou esse apelido por ser mais feio que a necessidade na casa de pobre. Contam as más-línguas, e olha que em Piracicaba elas são muitas!, que desde pequenininho, o Carcaça já era tão feio, mas tão feio, que tiveram que amarrar a sua mãe, para que ela o amamentasse!
Mas, como dizem no interior, feiúra não é defeito, é sina.

Porém o dito tinha um defeito, esse sim, que era o de ser sempre o último a chegar, quando a bóia já estava prontinha e sempre dava um jeito de se servir primeiro, escolhendo a melhor parte.
Daquela vez não foi diferente. Chegou tarde, obrigando o Tonico a se arrastar, “bebinho da silva”, até o portão pra deixá-lo entrar. Imediatamente se “apropriou” da churrasqueira, separando no seu prato os pedaços mais suculentos de carne, descolou a cerveja mais geladinha da geladeira e comeu como se nunca mais houvesse outro almoço!
Barriga (muito!) cheia, desalojou o Tonico da rede e se espichou para uma “paia”.
Os amigos, já de saco cheio daquela rotina, resolveram dar uma lição no folgado, aprontando alguma das muitas brincadeiras típicas de Pira.
Um deles, vamos chamar de João, pra não arrumar encrenca, foi até o chiqueiro e, com todo cuidado, recolheu um pouco de merda fresca de porco na ponta de um palito. Com mais cuidado ainda, num golpe rápido, esfregou o palito lambuzado dentro de uma das narinas do dorminhoco. Tão de porre estava o Carcaça, que nem piscou.
Umas cinco da tarde, acorda o ressacado. Na boca aquele gosto de cabo de guarda-chuva, uma dorzinha de cabeça bem chata e uma sede desgraçada. Vai até a bica, toma um copo dágua, cheira o copo, enche novamente, cheira a água, joga fora.
Os outros só observam, disfarçando e fazendo a maior força pra não rir.
O Carcaça esfrega o nariz (espalhando a merda nos pelinhos e acentuando assim o cheiro) e aspira o ar em volta, procurando a fonte daquele fedor. Vai até a varanda, cheira daqui, cheira de lá… O pessoal jogando uma partidinha de buraco, faz de conta que não nota nada.
Ele vai até a porta da casa e enfia o nariz, cheirando lá dentro. Dá uma tossida, vai até a piscina, cheira o ar, levanta o pé pra olhar a sola do chinelo… Volta pra mesa onde os outros estão e pergunta:
– Pessoal? Vocês não estão sentindo um cheiro diferente?
Todos fazem cara de desentendido:
– Não… Normal…
– Ara, seus putos! Cês aprontaram alguma! – Acusou o Carcaça.
Todo mundo na maior inocência… Tanta inocência que o Carcaça não aguentou:
– Quer saber? Vou-me embora! Isso aqui tá cheirando merda! Cês gostam, cês que agüentem!
Se mandou para o carro, entrou, ligou o motor, abriu a janela, deu mais uma longa aspirada no puro ar da chácara e explodiu:
– Puta merda! CAGARAM NO MUNDO!

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